"Essa menina, se está aqui, é porque é uma depravada, uma corrompida...", brada o intérprete do Doutor Jubileu de Almeida - o deputado considerado uma "reserva moral" pelos jornais - para a menina na fina flor dos 16 anos, Glorinha.
O espaço seria a casa que oferece garotas das melhores famílias para figurões da sociedade, administrada por Madame Luba. Porém, a encenação aconteceu no parque Trianon, no dia do ensaio da peça "Perdoa-me por me traíres", no feriado de 21 de abril.
"Sujo! Indecente! Quero ir-me embora" replicava Glorinha, enquanto mães saiam acompanhadas de seus filhos de um parquinho próximo ao local da cena. As crianças observavam com sua curiosidade inocente - na definição de um dos membros do grupo Sagomadarrea - sem entender direito o que acontecia. Já as mães, apressavam-se para sair do campo de visualização.
A interação entre o grupo com os oriundos do local, aliás, foi fato marcante durante todo o ensaio. Num trecho do segundo ato, quando Gilberto, marido possessivo e paranóico, coage sua mulher a contar com quem ela falava ao telefone, com um expressivo "Fala ou eu te arrebento" - uma menina, que estava "assistindo" a cena junto da amiga, gritou: "arrebenta mesmo!". Apesar de não ser das melhores intervenções, por assim dizer, não deixa de ser um contato com a classe não-teatral.
Além delas, os policias do parque também presenciaram o ensaio "aberto", porém, nenhuma prisão por assédio sexual foi efetuada. Pelo contrário, eles pareciam estar gostando.
Os ensaios da peça acontecem todos os sábados no antigo "palco Sérgio Malandro", no 3° andar da faculdade Cásper Líbero. Para mais informações, entrar em contato pelo e-mail sagomadarrea@gmail.com.